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Uma visão sobre efeitos normais em uma pandemia

Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados contudo, nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificado como reações normais diante de uma situação anormal.

[nectar_dropcap color=””]D[/nectar_dropcap]urante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados contudo, nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificado como reações normais diante de uma situação anormal.

Reações mais frequentes:

    • Medo de Adoecer e morrer;
    • Perder as pessoas que amamos;
    • Perder os meios de subsistência:
    • Não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido;
    • Ser excluído socialmente por estar associado à doença;
    • Ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena;
    • Não receber um suporte financeiro;
    • Transmitir o vírus a outras pessoas.

É esperado também a sensação recorrente de:

    • Impotência perante os acontecimentos;
    • Irritabilidade;
    • Angústia;
    • Tristeza.

Em caso de isolamento pode-se intensificar os sentimentos de:

    • Desamparo;
    • Tédio;
    • Solidão e tristeza;
    • Alterações ou distúrbios de apetite (falta de apetite ou apetite em excesso);
    • Alterações ou distúrbios do sono (insônia, dificuldade para dormir ou sono em excesso, pesadelos recorrentes);
    • Conflitos interpessoais (com familiares, equipes de trabalho…);
    • Aumento da violência doméstica e da violência direcionada aos profissionais de saúde;
    • Pensamentos recorrentes sobre a epidemia;
    • Pensamentos recorrentes sobre a saúde da família;
    • Pensamentos recorrentes relacionados a morte e ao morrer.

As estratégias de cuidado psíquico em situações de pandemia, recomendam:

    • Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar;
    • Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;
    • Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);
    • Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;
    • Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia;
    • Busque colegas de trabalho e supervisores que possam estar sentindo as mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas;
    • Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário);
    • Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;
    • Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas;
    • Evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;
    • Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde;
    • Reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;
    • Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social;
    • Estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade.

Alguns critérios para determinar se uma reação psicossocial considerada esperada, está se tornando sintomática e precisará ser encaminhada são:

    • Sintomas persistentes;
    • Sofrimento intenso;
    • Complicações associadas (por exemplo, conduta suicida);
    • Comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano;
    • Dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho;
    • Problemas coexistentes como alcoolismo ou outras dependências;
    • Depressão maior, psicose.

Os transtornos psíquicos imediatos mais frequentes são os episódios depressivos e as reações de estresse agudo de tipo transitório. O risco de surgimento destes transtornos aumenta de acordo com as características das perdas e outros fatores de vulnerabilidade.

Entre os efeitos tardios mais recorrentes estão:

    • Luto patológico;
    • Depressão;
    • Transtornos de adaptação;
    • Manifestações de estresse pós-traumático (um tipo de ansiedade que causa sofrimento intenso e prejuízos nos relacionamentos e trabalho);
    • Abuso do álcool ou outras substâncias que causam dependência e transtornos psicossomáticos.

Padrões de sofrimento prolongado que se manifestam como tristeza, medo generalizado e ansiedade expressos corporalmente são sintomas que podem vir a desencadear uma patologia a médio ou longo prazo, caso não seja realizada uma intervenção qualificada.

Pesquisadores colaboradores de Atenção Psicossocial e Saúde Mental do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) da Fiocruz:
Bernardo Dolabella Melo, Daphne Rodrigues Pereira, Fernanda Serpeloni, Juliana Fernandes Kabad, Michele Kadri e Michele Souza e Souza, Ionara Vieira Moura Rabelo

Referências Bibliográficas:
Como lidar com os aspectos psicossociais e de saúde mental referentes ao surto de COVID-19. Versão 1.5, março 2020. IASC – Inter-Agency Standing Committee. WHO. Mental health and psychosocial considerations during COVID-19 outbreak. March, 2020. Médicos sem Fronteiras, www.msf.org.br

Caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental.

Dra. Iara Walkiria Belfort Rolim

Autora Dra. Iara Walkiria Belfort Rolim

Psicóloga Clínica com 30 anos de experiência, pós-graduada em Estresse Pós Traumático (TEPT), Palestrante e Grafóloga.

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