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Terapia do Luto ou Aconselhamento

Na separação de um ganso de seu companheiro:

“A primeira resposta para o desaparecimento do parceiro consiste na tentativa ansiosa de encontrá-lo novamente. O ganso movimenta-se agitadamente dia e noite, voando grandes distâncias e visitando lugares em que o parceiro possa ser encontrado, pronunciando, todo o tempo, uma penetrante chamada trissilábica de longa distância... As expedições de busca ampliam-se mais e mais e bastante frequentemente o próprio buscador se perde ou sucumbe em um acidente... Todas as características objetivas observáveis do comportamento do ganso, ao perder seu parceiro, são brutalmente idênticas ao luto humano. “
(Lorenz, 1963, citado por Parkes, 2001, p. 44.)

(Lorenz, 1963, citado por Parkes, 2001, p. 44.)

O ser humano é um ser social, desde a concepção onde vai ocorrendo o seu desenvolvimento dentro de um outro ser e mesmo depois que nasce e por mais tempo ainda, precisa da assistência de outro ser até atingir a maturidade física e sua autonomia. Os pais fornecem com apegos de amor, cuidado e atenção aos filhos o vínculo de segurança, que é a base para o crescimento saudável e enfrentamento dos problemas que virão a surgir no ciclo vital, que favorece o surgimento por sua, da criação novos vínculos afetivos entre as pessoas da convivência. Por meio da boa parentalidade, o ser humano se percebe tanto apto a se ajudar, quanto digno de ser ajudado quando surgem dificuldades.

Esses laços afetivos geram forte reação emocional quando são rompidos pois muito desses apegos tem o valor de sobrevivência gerando uma ansiedade intensa e forte protesto emocional. Quanto maior o risco de perda, mais intensas e variadas serão as reações e em certas circunstâncias, todas as formas mais poderosas de comportamento são ativadas como grude, choro e talvez coação raivosa. Quando essas ações são bem sucedidas, em um determinado tempo, o vínculo é restaurado, essas atividades cessam e o estado de estresse e angústia é aliviado mas se o perigo não desaparece, surge então o sentimento de afastamento, apatia e desespero, indicativos de um luto patológico.

Uma nova situação

O processo de luto é semelhante ao processo de cicatrização onde todas ou quase todas as funções são adaptadas, a nova situação de ausência do outro, mesmo existindo casos de disfunções e resoluções inadequadas. É necessário um período para o enlutado retornar ao estado similar de equilíbrio psicológico.

O luto normal envolve uma ampla gama de comportamentos considerados comuns como: alguma perturbação somática, preocupação com a imagem da pessoa falecida, culpa relacionada com o morto ou a circunstância da morte, reações hostis, inabilidade para desempenhar funções de anteriormente, desenvolvimento de comportamentos semelhantes aos da pessoa falecida.
Envolve também sentimentos como: tristeza, raiva, culpa e censura, ansiedade, fadiga, desamparo, choque, saudades, libertação, alívio, torpor. E sensações físicas como: vazio no estômago, aperto no peito, aperto na garganta, hipersensibilidade a ruídos, senso de despersonalização (não sentir as coisas como reais), falta de ar, dificuldades para respirar, fraqueza muscular, falta de energia, secura na boca.

O processo do luto

Os pensamentos que surgem são de: descrença, confusão, preocupação, sensação de presença, alucinações. Distúrbio do sono, distúrbio do apetite, ausência de pensamento, isolamento social, conho com o morto, evitação de lembranças, procurar e chamar, suspiro, hiperativação e agitação, choro, depressão.

O luto é um processo que tem algumas tarefas que precisam ser cumpridas e que com a ajuda de um conselheiro, oferece a esperança de que exista um caminho, de que algo pode ser feito para aliviar o sofrimento com a perda. O cumprimento dessas tarefas, ao todo cinco, pode ser um poderoso antídoto para sentimentos de desamparo vivenciados pela maioria dos enlutados tais como:

Tarefas

Tarefa I:

Aceitar a realidade da perda, onde é necessário encarar que a pessoa está morta e não voltará mais;

Tarefa II:

Processar a dor do luto, passar por essa dor e saber que qualquer coisa que impeça evitar ou suprimir essa dor pode prolongar o processo do luto. Deve aprender a lidar com a força bruta e a natureza das emoções subsequentes à perda;

Tarefa III:

Ajustar-se a um mundo sem a pessoa morta. Nesta fase é necessário fazer 3 ajustes:

bruta e a natureza das emoções subsequentes à perda;

Externo: de como a morte afeta o funcionamento habitual no contexto geral;
Interno: de como a morte afeta o senso de si mesmo
Espirituais: de como a morte influencia crenças, valores e suposições da pessoa
sobre o mundo

Tarefa IV:

Encontrar a conexão com o morto de maneira a que não fique impedida a  continuação davida pelo enlutado. Memorizar, lembrar-se do ente querido morto, por exemplo.

As tarefas exigem esforço, ainda que nem todas as perdas por morte desafiem essas tarefas do mesmo modo. O luto é um processo cognitivo que envolve confrontação e reestruturação do pensamento acerca da pessoa morta, da experiência da perda e do mundo modificado, no qual, o enlutado precisa viver.
O luto é um fenômeno com variabilidade interpessoal enorme e fortes diferenças individuais na intensidade das reações afetivas, no grau de prejuízo e na extensão do tempo em que a pessoa vivencia o efeito doloroso da perda, os níveis de estresse a que estão sujeitos depende de vários mediadores como:

  • Quem era a pessoa que morreu;
  • A natureza do vínculo;
  • Como a pessoa morreu;
  • Perdas sofridas;
  • Variáveis da personalidade;
  • Suporte emocional e social recebido da familia;
  • Mudanças e crises pós morte.

Muitos comportamentos do luto podem ser similares as manifestações da depressão ou podem desencadeá-la.

No luto normal a ajuda de um conselheiro é suficiente já no luto considerado patológico ou complicado o lidar com a perda pode dar origem a problemas de mais difícil resolução, de 10 a 15% das pessoas enlutadas continuarão a debater-se, sendo necessário para elas a indicação de uma Terapia do luto.

O objetivo do aconselhamento do luto é ajudar ao enlutado a resolver os conflitos de separação, a adaptar-se da melhor forma possível a perda sofrida e ser capaz de confrontar-se com pensamentos e sentimentos dos quais ele vem se esquivando, ajustar-se à nova realidade dessa ausência. Há objetivos referentes a cada uma das tarefas do luto explicadas acima tais como:

  • Reforçar a realidade da perda;
  • Ajudar o indivíduo a lidar com o sofrimento emocional;
  • Auxiliar na superação dos impedimentos e reajustes pós perda;
  • Ajudar a encontrar uma nova forma de vinculo e reinvestir energia na vida.

O luto é um processo longo e sua culminação não fará com que o enlutado volte a um estado pré-luto e apesar do processo do luto evoluir, o luto não ocorre de modo linear, ele pode reaparecer para ser trabalhado novamente.

“Uma viúva, que também perdeu seu filho adulto jovem, disse-me após longo e doloroso período de luto: Suas expectativas lhe consomem! Eu agora me dou conta que a dor nunca vai embora completamente. A dor volta, mas eu posso lembrar melhor dos períodos de intervalos”.

Existe um senso de que o luto pode estar terminado, quando o enlutado recupera o interesse pela vida, sente-se mais esperançoso, se adaptam a novas situações mas existe também um outro senso o de que o luto nunca termine.

Terminando o artigo, Sigmund Freud escreveu a seu amigo Binswanger, cujo filho havia morrido:

“Nós encontramos um lugar para aquilo que perdemos. Embora saibamos que após tal perda o estágio agudo do luto surgirá, nós também sabemos que podemos permanecer inconsoláveis e nunca encontraremos um substituto. Não importa o que possa preencher esse vazio, mesmo que seja completamente preenchido, não deixa de ser outra coisa.”

Freud, 1961, p. 386

Aconselhamento ou a Terapia do Luto é muito eficaz. As experiências subjetivas e as mudanças observáveis no comportamento do enlutado, dão credibilidade a tais intervenções terapêuticas focais.

(IaraWBR)

Dra. Iara Walkiria Belfort Rolim

Autora Dra. Iara Walkiria Belfort Rolim

Psicóloga Clínica com 30 anos de experiência, pós-graduada em Estresse Pós Traumático (TEPT), Palestrante e Grafóloga.

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